Informação básica da planta

1 - NOMENCLATURA

Nome científico: Spondias tuberosa Arruda
Família: Anacardiaccae
Nomes vernaculares: é também conhecido como:  imbu, imbuzeiro, umbu e umbuzeiro.
Origem/significado do nome: umbu é corruptela da palavra tupi-guarani "y-mb-u", que significava "árvore-que-dá-de-beber".

2 - OCORRÊNCIA

Distribuição geográfica

           É originário do semi-árido do Nordeste brasileiro. Está presente nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Paralba, Pemambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e norte de Minas Gerais.

Informações ecológicas

           É uma espécie heliófila, tendo preferência por regiões de precipitações entre 400 e 800 mm anuais (podendo viver em locais com chuvas de 1.600 mm/ano), temperatura entre 12oC e 38oC, umidade relativa do ar entre 30% e 90% e 2000 a 3000 horas de luz solar/ano.
O seu xerofilismo e alta resistência a prolongados períodos de estiagem são devidos a um conjunto de estratégias e mecanismos de adaptação. A planta derruba as folhas no período seco sazonal e exerce controle sobre a transpiração pelo fechamento dos estômatos das folhas nas horas mais quentes do dia, promovendo acentuada economia de água em seu interior. A água e os nutrientes contidos nas túberas de seu sistema radicular são também fatores auxiliares nas estratégias de adaptação à seca em plantas novas.
O umbuzeiro vegeta em solos argito-silicosos ou silico-argilosos, nem sempre profundos, sendo fácil ser encontrado em solos muito rasos e produzindo bem. Os aluviões são ótimos para esta espécie.
Onde o umbuzeiro ocorre é comum encontrar-se, por exemplo, a imburana (Commiphora leptophloleos), o faveleiro (Cnidoscolus spp.), a barriguda (Chorisia ventricosa Nees & Mart.), o icó (Capparis yco Mart.), a baraúna (Schinopsis brasiliensis), o licurí (Cocos coronata Mart.) e outras próprias do mesmo habitat.
Floresce, quase sempre, um pouco antes das primeiras chuvas, quando ainda sem folhas, ou pode iniciar-se após as primeiras chuvas, independentemente da planta estar ou não enfolhada.

3 - DESCRIÇÃO

Hábito de crescimento

           Árvore de crescimento lento, podendo chegar 7m e 0,20 a 1 m de diâmetro (DAP). Sua copa é esgalhada, multiramificada, densa, baixa, de ramos tortuosos e cobertos de abundante folhagem, expandindo-se até 15 m de diâmetro.

Caule

            Possui tronco apresentando, quase sempre, sinais de atrofia, retorcido, irregular nodoso, de cor cinza com útidorna desprendendo-se em placas sub-retangulares.

Casca

            O tronco do umbuzeiro é revestido por casca lisa, com presença de saponina. A casca morta de tronco idoso, tem espessura média (2 a 5 mm), sendo acentuadamente áspera, rígida, cor cinza-clara a negra, e formada de placas aproximadamente arredondadas, resultantes do fendilhamento longitudinal e transversal das lenticelas que limitam tais placas. Essas são dificilmente destacáveis e, quando desprendem, deixam depressões ou marcas.
Apresenta casca viva de espessura média (5 a 12 mm), avermelhada internamente. Por incisão, apresenta exsudato transparente, resinoso e odor semelhante ao da terebentiria, sem sabor distinto.

Folha

            As folhas têm 10 a 15 cm de comprimento, são alternas, compostas, imparipinadas, com 3 a 9 folíolos de bordos inteiros, ovalados ou elípdcos, acominados, com 2,5 a 4cm de comprimento.
Perde totalmente as folhas durante a época seca, revestindo-s após as primeiras chuvas.

Flor

            Inflorescência em panículas com 10 a 15cm de comprimento, contendo geralmente nove fascículos opostos, que em média, encerram onze flores.
Flores alvas, melíferas, perfumadas, constituídas de cinco sépalas e cinco pétalas, em forma de taça, medindo cerca de 6 mm de diâmetro, quando completamente abertas. A abertura das flores dá-se entre 0 e 4 horas (com pico às 2 horas) e 60 a 125 dias após a abertura da flor o fruto estará maduro.

Fruto

            Os frutos são carnosos, do tipo drupa. São glabros ou levemente pilosos, de forma arredondada a ovalada,- cor amalelo-esverdeada quando maduros. Com 2 a 4 cm de diâmetro e pesando de 10 a 20 gramas. Apresentam superfície lisa, ou exibem quatro a cinco pequenas protuberâncias na porção distar. O fruto do umbuzeiro é constituído, em média, por 22% de casca, 68% de polpa e 10% de caroço. O epicarpo (casca) é fino e de cor amarelo-esverdeada . O mesocarpo (polpa) é branco- esverdeado, mole, suculento, de sabor agridoce muito agradável, tendo no centro um endocarpo (caroço), que é de tamanho variado e contem a semente propriamente dita. O endocarpo é muito resistente e formado por três camadas.
Quando verde, o fruto tem 33,3 mg de ácido ascórbico (Vitamina C) e, quando maduro, sua, concentração é de 14,2 mg por 100 cm3. Contem também vitaminas A e do complexo B e é rico em proteínas, carboidrato minerais e amido.

Raiz

            As raízes da planta são superficiais, porém muito desenvolvidas, ficando concentradas na camada que vai até 1 m de profundidade. Possuem órgãos de reserva denominados xilopódios ou túberas, que são estruturas intumescidas, de consistência esponjosa, arredondadas, escuras, com cerca de 20cm de diâmetro e 1 a 4 kg de peso em plantas adultas. São constituídas por tecido lacunoso, celulásico e cheio de água. Às vezes estas estruturas são alongadas, medindo'aproximadamente 50 cm de comprimento. A casca dessas intumescências é escura e seu interior esbranquiçado.

Madeira

            Tem madeira leve, mole, fácil de trabalhar de baixa durabilidade natural.

4 - USOS

Madeireiro

            Fornece madeira para obras internas, caixotada, pasta para papel e manufatura de cachimbos. Também é usada como lenha, embora a sua utilização, com essa finalidade, seja inapropriada, dados os diversos serviços ambientais proporcionados pelo umbuzeiro e pela existência das mais variadas formas de uso (são conhecidos 48 produtos que podem ser extraídos do umbuzeiro) que, comprovadamente, podem proporcionar maior segurança alimentar e benefícios econômicos ao agricultor

Forrageiro

            As folhas são apreciadas pelo gado bovino, caprino e ovino, constituindo importante suplemento alimentar em áreas de caatinga. Esses animais retiram as folhas dos galhos baixos, quando verdes e, quando secas, são consumidas diretamente do chão. As mesmas são também consumidas por animais silvestres, como veados e cágados. Os frutos são igualmente muito apreciados pelo gado.
Suas flores são melíferas, proporcionando pasto apícola para produção, de mel de florada.

Frutífero

            O principal uso dos frutos é o consumo na forma de fruta fresca. Os mesmos são também processados para obtenção de diversos produtos. Um dos mais apreciados no semi-árido do Nordeste é a umbuzada uma bebida feita a partir de frutos verdes ou de vez cozinhados para extração da polpa, à qual é adicionado leite e açúcar.
A polpa fresca ou congelada tem ampla aceitação nos mercados regional e nacional para confecção de suco. É também usada misturada a bebidas (batida), no preparo de gelatinas, licores, sucos engarrafados, doces, geléias, vinho, vinagre, azeitona, concentrado para sorvete e passa (fruto seco ao sol).

            O aproveitamento dos frutos por comunidades rurais do Nordeste do Brasil vem sendo mais bem difundido graças a tecnologias inovadoras e apropriadas para o pequeno produtor rural e à interação sinérgica entre a EMBRAPA Semiárido, entidades de desenvolvimento local e organizações populares, com benéficos para a economia e a integração regional.

Medicinal

            A água acumulada nas túberas presta-se ao combate de verminoses e da disenteria. A casca do tronco e dos galhos é utilizada pelo sertanejo no combate às diarréias, blenorragias, hemorróidas, afecções da garganta e outros males.

Outros usos

            Nos anos de seca prolongada, os sertanejos aproveitam as túberas do sistema radicular para saciar a fome e a sede. Essas túberas, conhecidas vulgarmente pelos nomes de "cafofa", "cunanga", "cunca" e "batata- de-umbu", dentre outros, contém abundante seiva com, apreciáveis quantidades de sais minerais e vitamina C e são de sabor doce e agradável. Tradicionalmente as túberas de plantas adultas são utilizadas para fabricar farinha por meio de secagem das mesmas. Mais recentemente vem sendo estimulado pela EMBRAPA Semiárido a produção de mudas de umbuzeiro em viveiros caseiros para fins de consumo das túberas como verdura ou como matéria prima para fabricação de picles e doce.
A planta, através da sua copa, produz ótima sombra para o homem, para o gado como também para o solo. O umbuzeiro é uma espécie apropriada para reflorestamento.

5 - MANEJO

            Propagação/obtenção de mudas A propagação do umbuzeiro pode ser feita através da semente, de estacas ou de enxertia. A propagação via estaca ou enxertia, a partir de plantas selecionadas, permite a obtenção de pomares com indivíduos que apresentam características de produtividade e qualidade de frutos desejadas pelos agricultores. A propagação por sementes propicia a conservação,da variabilidade genética da espécie.

PRODUÇAO DE MUDAS

Produção de mudas via semente.

            O caroço é a semente utilizada para a produção de mudas. De preferência. os caroços devem ser provenientes de frutos de plantas vigorosas, sadias, e produtivas. É bom escolher os caroços médios a grandes de cada uma das plantas selecionadas pala fornecimentos das sementes, pois deles resultam plântulas Com maior vigor. A semente conserva-se por vários anos quando não atacada pelo gorgulho da semente.
Quando a semente a ser utilizada é aquela colhida nos currais ou quintais, proveniente dos excrementos de caprinos, bovinos ou ovinos e que já vem enriquecida em nitrogênio e outros nutrientes, a mesma pode ser plantada imediatamente e tem uma capacidade de germinação acima de 80%.
Quando a semente é proveniente de frutos frescos, a mesma deve ser guardada por um período de 6 a mais meses para então poder ser plantada, pois tem sido demonstrado que sementes com 6 até 24 meses de armazenamento apresentam maior percentual de germinação do que sementes recém preparadas, em tomo de 70 a 80%. Porém, se o agricultor pretende plantar essa semente proveniente de frutos frescos, no mesmo período, deve tratá-la com esterco e água para alcançar elevada porcentagem de germinação, seguindo o seguinte procedimento. Primeiro, coloca-se em um balde uma parte de esterco para três de água e deixa-se repousar por um período de 12 horas; depois se côa e colocam-se as sementes na água coada deixando por 24 horas.
As sementes são semeadas em saquinhos ou em canteiros. O recipiente a receber a semente pode ter a dimensão de 40 cm x 25 cm, de forma tal que possa receber 5 kg de mistura de solo da caatinga com esterco de curral curtido, na proporção 3:1. Três a quatro caroços são colocados no recipiente a  3 a 4 cm de profundidade. A germinação dá-se entre 12 e 90 dias após o semeio (de ordinário em 40 dias). Quando nasce mais de uma planta por saquinho, faz-se o desbaste nos sacos quando as plantinhas tiverem 5 cm de altura. Ou, seja, deixa -se apenas uma planta por saco e as outras podem ser aproveitadas nos sacos em que não houve germinação
As mudas produzidas, com aproximadamente três meses de idade e 25 a 30cm de altura, podem ser transplantadas ao campo.

Produção de mudas via estacas

            Experiências de agricultores familiares com plantio de estacas atestam que a época boa de retirada e plantio das estacas é quando a planta esta sem folhas. Estes utilizam ramos cortados com tamanho 2 m, os quais são plantados a uma profundidade aproximada de 0,5m e recomendam que a terra devolvida à cova não seja socada. Com esses procedimentos as estacas levam 3 anos para começar a produzir.
Na literatura sugere-se a retirada das estacas do interior da copa da planta, devendo ter 3,5 cm de diâmetro comprimento entre 25 e 40 cm. As estacas são postas a enraizar (brotar) em leitos de areia fina ou limo, enterradas em posição inclinada. Também há a recomendação de enterraras no focal definitivo de plantio.

Produção de mudas via enxertia

            Diferentes métodos de enxertia têm sido testados e recomendados. Dentre estes, os mais difundidos são os de garfagens em fenda cheia e inglesa simples, com índices médios de pegamento de 97 e 92%, respectivamente.  Bem  como a borbulhia em placa e em janela aberta com pegamento de 78%. Ainda, a enxertia do umbuzeiro pode ser realizada em qualquer época do ano, para os métodos de garfagens em fenda cheia e a inglesa simples, independente do estágio fenológico em que a planta matriz fornecedora de garfos se encontra.

Plantio

            Alguns agricultores costumam enriquecer as suas propriedades com pés de umbuzeiro, geralmente em áreas protegidas dos animais como lajedos, roçados de palma e quintais. A disposição das plantas nessas áreas obedece a critérios próprios, como proporcionar sombra e cercas vivas. Em plantios mais formais de umbuzeiro têm sido utilizados os seguintes espaçamentos: 10m x 10m (100 plantas/ha), 12m x 12m (69, plantas/ha), e até 16 m x 16 m (39 plantas/ha). Espaçamentos mais abertos permitem o cultivo de roçados por mais tempo entre as plantas de umbuzeiro e de outras plantas da caatinga, em sistemas agroflorestais. Outro modo, de cultivo, já avaliado com sucesso e bastante próximo das práticas tradicionais dos agricultores do semi-árido, é o enriquecimento da caatinga com plantas de umbuzeiro. É realizado com a abertura de trilhas e coroamento nos locais das covas, retirando-se o estrato herbáceo, para a implantação das mudas.'
As covas devem ter dimensões de 40cm x 40cm x 40cm ou 50cm x 50cm x 50cm, segundo textura do terreno. Estudos na Embrapa Semi-árido tem comprovado a rusticidade do umbuzeiro, que dispensa o uso ,de adubos, pelo menos em sua fase juvenil. Entretanto, há na literatura recomendações de adubação de cova com 20 litros de esterco de curral curtido, 300 gramas de superfosfato simples e 100 gramas de coreto de potássio, misturados à terra de superfície e colocadas no fundo da cova, 30 dias antes do plantio.
No plantio, retirar o recipiente que envolve o torrão da muda e irrigar a cova. O plantio deverá ser feito no início das chuvas.

Tratos culturais

            Uma prática testada, que permite reduzir o início de produção de frutos, é a construção de bacia de captação de água na projeção da copa, realizada de forma simples com uso de enxada. Com a bacia é possível em uma única chuva acumular uma quantidade de água equivalente a dez chuvas com a mesma intensidade, encurtando o prazo de frutificação de 8 a 10 anos para 5 anos, em plantas oriundas de semente.
Devido à rusticidade do umbuzeiro, a necessidade de adubação de plantas em fase de produção ainda não é devidamente esclarecida. Contudo, a aplicação de adubos orgânicos para restituir os nutrientes que são retirados pela colheita de frutos merece ser avaliada.

Principais Pragas e Doenças

            Existem diversos relatos de insetos associados ao, umbuzeiro, mas não há registros de nenhum que possa ser considerado uma séria ameaça, pelo menos dadas às condições atuais das populações de umbu, onde não há uma concentração excessiva de plantas que pudessem favorecer surtos de pragas. Associadas às folhas estão a mosca-branca (Aleurodidis cocois Curtis, 1846), a lagarta-de-fogo (Megalopyge lanata Stoli-Cramer,  1780), a vaquinha-patriota (Diabrotíca speciosa Ger., 1824) e o mané-mago (Stiphra algarobae); aos frutos, a abelha-irapuã (Trigona spp.) e a cochonilha-de-escama-de-farinha (Pinnaspis spp), que também se alimenta em ramos tenros. O cupim (Cryptotermes spp.) pode causar prejuízos maiores, inclusive! acarretando a morte da planta mas a sua ocorrência não é generalizada.
Problemas com microrganismos parecem pouco sinificativos. A verrugose, ocasionada pelo fungo Elsinoe spp. Porvoca em ramos, folhas e frutos manchas de tecido encharcado e deprimidas, que depois se apresentam como lesões corticosas, salientes e de coloração escura. A septoriose, ocasionada por Septoria sp., provoca manchas necróticas, superficiais, circulares, de coloração cinzenta com pontuações negras. Quando muito atacadas por esse fungo as plantas perdem as folhas. Ambas doenças, caso ofereçam danos acentuados podem ser controladas pela aplicação de soluções contendo micronutrientes (calda bordaleza, e calda viçosa) que ajudam a restabelecer a resistência das plantas e afetam diretamente esses, microrganismos. Podar galhos secos e doentes, retirá-los da área e enterrá-los é uma boa medida preventiva que evita a disseminação de possíveis pragas e doenças.

Colheita / Rendimento

            A atividade econômica,em torno do umbuzeiro é predominantemente extrativista, pois as plantas são apenas manejadas ou simplesmente cultivadas. Desse modo, a coleta dos frutos é maiormente realizada de árvores que crescem espontaneamente. Ainda assim, o extrativismo do umbuzeiro é um importante fator de absorção de mão-de-obra e geração de. renda no semi-árido brasileiro. Os resultados de um estudo de caso demonstraram que, em media 79% das famílias de agricultores familiares participam do extrativismo do fruto do umbuzeiro. O tempo de dedicação à colheita foi em media de 60 dias e a renda obtida por cada agricultor foi em media de RS 266,00.
O pé franco do umbuzeiro inicia a produção a partir do 8o ao 10o ano de vida e as mudas enxertadas a partir dos 3 anos. A produtividade das plantas individualmente é variável, mas há registros de uma produtividade média de plantas adultas e bem desenvolvidas de aproximadamente 300 kg de frutos/safra. Um hectare com 100 plantas tem potencial de produzir 30 toneladas de frutos/ano.
A maturação do fruto é observada quando a cor da sua casca passa do verde ao amarelo. Maduro, o fruto cai ao chão, sem danificar-se. Para consumo ou processamento imediato o fruto é apanhado maduro e, para transportar, deve-se colher o fruto "de vez'.

Extraído do Livro Plantas úteis do Nordeste do Brasil

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